Queria compartilhar um pouco do que passei na Biologia no ano de 2012 e como está sendo este início de 2013.
Como alguns já sabem, desde o meio de 2011 até o começo de 2012 estagiei com parasitos (Leishmania e Trypanosoma) no laboratório das minhas professoras Carla e Izabela. Não estava satisfeita por causa do ambiente competidor e dos próprios colegas que criavam um ambiente desconfortável (com exceção dos que sinto falta). O fato de todas as bolsas de iniciação científica estarem ocupadas por outras pessoas também me desmotivou a continuar neste laboratório. Conversei com as professoras, minhas orientadoras, que me deram ótimos conselhos e ajudaram muito nas minhas escolhas. Nisso, fui atrás de outra professora, a Sonia que trabalhava com estrutura de proteínas, uma área que sou apaixonada. Entrei em contato com ela por e-mail, expliquei o motivo de procurá-la e marcou uma reunião comigo. Por coincidência, este laboratório também estava oferecendo vagas para estagiários, com direito a remuneração. Inscrevi-me no estágio, fui aprovada nos dois primeiros processos de seleção (análise do meu currículo vitae lattes e do meu histórico escolar e uma prova teórica de conhecimentos específicos). Marcamos uma reunião novamente, em que conversei insistentemente sobre a possibilidade de obter uma bolsa científica. Ela ficou bastante receosa, mas aceitou e pediu que começasse a ler uns artigos e redigir meu pré-projeto. Desisti do estágio remunerado e me dediquei na redação do pré-projeto. Recordo de ela ter corrigido umas três vezes e enviado o projeto final. Acabou aceitando que eu fosse bolsista do ProIC (Programa de Iniciação Científica). Tudo estava indo bem até conhecer a doutoranda que iria me acompanhar.
Parte do meu projeto iria ocorrer na EMBRAPA, pois necessitava de um equipamento que tinha apenas lá. No primeiro dia em que fui, lembro que a doutoranda me explicava tudo sem paciência e de modo agressivo, mas me avisou dos problemas que ocorriam neste lugar. Na segunda semana, queria que eu decorasse todos os métodos e a ordem deles. Nisso, começamos a nos desentender com frequência e recorri à minha orientadora. Elas conversaram, mas nada mudou, continuou me tratando de modo desrespeitoso. Eu estava estressada e não aguentando mais, levantei a voz para ela e falei muitas coisas. Avisei minha professora que não conseguiria ir à EMBRAPA, falei de tudo que foi discutido. Mas não parou por aí, enquanto fazia este treinamento, também cursava uma disciplina supervisionada pela professora Sonia junto a alunos de Nutrição e de Biologia. Ela me tratava com bastante frieza e era bem rígida e a maioria dos meus colegas me tratavam com desprezo. Depois de um tempo, fiquei deprimida, quase naquele mesmo estado em que estava na Enfermagem. Faltei algumas aulas desta disciplina, mas não afetaram meu desempenho. Ao final, tivemos que entregar dois relatórios. Confesso que me empenhei muito, li 20 artigos e me dediquei bastante tempo para escrever os relatórios, queria mostrar para professora que tinha um bom potencial. Após o término do semestre, minha nota da disciplina foi SS (9,0 a 10,0), nota merecida pelo grande esforço.
Tivemos uma última reunião, em que me deu uma segunda chance para continuar no projeto, falou inúmeras críticas negativas e desagradáveis, mas aceitei frequentar novamente a EMBRAPA, com a doutoranda (queria a bolsa, por isso não desisti de primeira). Combinamos todas as obrigações que precisava cumprir, mas a professora falou: "você está por um fio, mais qualquer coisa, você será retirada do projeto". Depois de alguns minutos pensando e tendo o auxílio do meu namorado e de amigas da Biologia, retornei ao laboratório e solicitei minha saída. No dia seguinte, assinei um documento que a própria professora escreveu dizendo que eu estava saindo por "vontade própria". Assim que me despedi, ela ficou comovida e disse que as portas do laboratório estariam abertas sempre que eu quisesse voltar (NUNCA mais retornarei, que fique bem claro).
Alguns meses depois, procurei um novo orientador, com uma abordagem totalmente diferente. Pesquisei pela área de Neuroimunologia e entrei em contato por e-mail com o professor Riccardo que supostamente atuava nesta área (fiquei receosa, até meu namorado me convencer de enviar o e-mail). Ele foi bastante receptivo e marcou uma reunião comigo. Quando nos reunimos, explicou que há muito tempo não trabalhava com essa área e que eu poderia trabalhar com cultura de neurônios. Pedi umas referências e ele me deu uma pasta amarela, com mais de 30 artigos. Levei para casa, mas não consegui lê-los por falta de tempo. Apenas fiquei com um que falava sobre a barreira hematoencefálica em associação à doença celíaca, que é a área que ele atua na realidade. Frequentei o laboratório em dezembro do ano passado para conhecer como seria a rotina do laboratório, me adaptei e quis continuar. O professor falou para retornar em janeiro, que teria uma bolsa me esperando (a bolsa que eu lutava tanto para ter estava na minha frente!). Na segunda semana de janeiro, retornei ao laboratório, fiz todos os trâmites burocráticos (abri conta em banco, entreguei n documentos, fiz carteira de trabalho) e comecei a receber na semana seguinte. Dedico um total de 24h ao laboratório, que são na segunda, terça e quarta, pela manhã e tarde. Em uma dessas vezes que fui ao laboratório, o professor disse que como eu estava mais "folgada", falou para redigir um artigo. Ele veio com essa conversa sobre a redação do artigo científico de modo totalmente inesperado. Sonhava em redigir um artigo e publicá-lo antes de terminar a graduação, achava impossível, mas é possível, sim.
Vocês já viram alguém fazer um artigo no terceiro semestre da graduação? São poucos que têm essa oportunidade de ouro. Estou levando muito a sério essa proposta. Na sexta, ele deu umas dicas do que fazer, como elaborar bem a metodologia e os resultados, como aprendi com o prof. Gilson Volpato na USP.
Fico impressionada com essas oportunidades maravilhosas que estou tendo com esse professor. Amo ir ao laboratório, vou até quando não preciso. Apareço lá, estudo, converso com meus colegas que são bastante simpáticos e me tratam bem (os pós-graduandos, com exceção dos estagiários).
Depois de um período de nuvens e incertezas, sempre aparece uma luz. Sinto que preciso passar por todas as coisas ruins para chegar aonde quero. Cresci espiritualmente nestes últimos anos. Sempre quando caio, procuro me reerguer. Sou chamada de fênix pelo meu namorado, porque consigo renascer das cinzas. Já estive várias vezes no fundo do poço, mas nunca me dei por vencida.
Uma frase que utilizava no meu blog era: "Ferida, não vencida" (Vulneratus non victus). E assim continuarei seguindo meu caminho, com muita determinação e persistência, ainda que o cansaço impere. :)