quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Uma vida escrita em horas...

No seu último ano de colégio, Katherine esteve com pessoas as quais não gostava. Sentia um vazio dentro de si, algo faltava. Ficava questionando se aquelas pessoas com quem andava a faziam feliz. Sabia que não elas não passavam de colegas ou passatempos. Além das aulas e períodos cansativos na escola, freqüentava um curso de pré-vestibular a noite com uma colega insuportável.

Ainda que tudo parecesse tão difícil e lhe causasse sofrimento, um anjo apareceu em sua vida no final daquele ano. Havia uma luz naquela escuridão interminável. Esse anjo lia todas suas reclamações atenciosamente e tentava ao máximo acalmá-la com suas palavras doces. Seu sentimento de carinho e afeto os tornaram cada vez mais amigos, mesmo que nunca tivessem se encontrado pessoalmente.

Queria um novo rumo na sua vida e assim o fez, quando recebeu o seu diploma. Teve um sentimento de grande alívio, pois estaria distante de seus colegas que tanto a atormentavam. Todo aquele período de sofrimento teria um fim, afinal seria hora de recomeçar uma nova etapa e esquecer o passado. Iniciaria novamente um curso de pré-vestibular em alguns meses.

 Apesar da falta de apoio da família, com exceção de sua mãe, Katherine seguiu em frente.  Seu desejo de ser nutricionista na universidade pública desde a oitava série veio à mente, mas era necessário recuperar o tempo perdido. Suas notas estavam baixas por todos aqueles conflitos internos existenciais no colégio.

Quando iniciou o novo pré-vestibular, estava entusiasmada e se empenhou muito. Assistia a todas as aulas, freqüentava monitorias, fazia os exercícios. Mas essa disposição foi desaparecendo, por mais que o anjo a incentivasse. Estava quase certa de que não estava preparada para o vestibular. A pressão dos pais, da sociedade, de si mesma e suas incertezas levaram-na ao fracasso. E mais uma vez teve que recomeçar o cursinho.

Mesmo que sua vida estivesse tão difícil e o anjo distante, Katherine jamais desistia do seu desejo. O anjo acabou se declarando e a pediu em namoro. Não haveria mais nada que pudessem separá-los. O amor entre eles era intenso e puro.

A aliança com o anjo, sua força de vontade e determinação fizeram-na persistir por um ano e meio de cursinho. Mas a melhora não foi significativa, pois algo ainda a incomodava. Não tinha amigos para apoiá-la durante o cursinho, isolava-se de todos. Até que conheceu duas pessoas que foram bastante simpáticas e ajudaram-na a ter uma boa melhora no vestibular. As conversas durante o intervalo das aulas, o afeto e a atenção foram de grande ajuda para que Katherine crescesse como pessoa e como estudante.

Cansada de freqüentar o mesmo curso, resolveu mudar para outro e acabou-se distanciando de seus “recém-amigos”. Uma nova jornada de cursinho iria recomeçar. Colegas, professores, ambiente e ensino novos, tudo parecia tão estranho. Mas foi se adaptando com o passar do tempo. Kat começou a selecionar as matérias de maior dificuldade do vestibular. Tinha aulas pela manhã, estudava a tarde e até umas oito horas da noite no cursinho. Estava determinada a passar, não agüentava mais fazer pré-vestibulares. Gostaria de ver seu nome dentro da universidade pública. Infelizmente, Kat não conseguiu conhecer novos amigos nesse ambiente. Seu foco era estudar. O esforço foi tanto que ficava doente frequentemente. A sala de estudos era desconfortável, empoeirada, quente e úmida, trazendo diversos problemas respiratórios. Quando Katherine passou do seu limite, desenvolveu quedas bruscas de pressão e glicose no sangue e anemia. Sentia-se fraca, mas procurou persistir até o final. Seus amigos de infância e das boas épocas do colégio preocupavam-se constantemente com a saúde de Katherine. Procuravam sempre ajudá-la na medida em que podiam. Chegando próximo ao vestibular, Katherine ainda se sentia insegura e mais uma vez acabou falhando.

Anunciaram que havia aberto um campus novo da universidade que desejava e logo se inscreveu, mas não dispunham do curso de Nutrição, apenas de Enfermagem. Kat pensou, refletiu bem e optou por Enfermagem. No dia do vestibular, estava calma, pois não era necessário ingressar naquele curso. Logo que terminou e corrigiu a prova, teve quase certeza de que não passaria neste também.

Os pais de Katherine ofereceram uma última chance matriculando-a em um outro cursinho. Caso não passasse, faria vestibulares para faculdades particulares. Kat ia às aulas deprimida, sem força ou empenho. Não prestava atenção nas aulas e quase não estudava, raramente permanecia no cursinho no período da tarde.

No dia em que Katherine voltou para casa depois das aulas e chorou em seu travesseiro, pois estava sem forças para continuar a lutar, eis que sua amiga a liga dizendo que passou em segunda chamada. Toda sua família caiu em prantos aquele dia e saíram para comemorar.

Kat estava ansiosa para o início das aulas no campus novo. Era uma universidade pública e finalmente poderia estudar matérias diferentes e aprofundadas. Sua alegria era indescritível. Tudo parecia maravilhoso, pois a área de saúde sempre foi seu foco. Contava entusiasmada aos seus pais e amigos o que aprendia nas aulas. Essa felicidade durou por dois semestres, até o dia em que escolheu entrar para uma representação acadêmica. Sabia que não estava no lugar certo, mas como era orgulhosa, não desistia de suas escolhas e fez o máximo para agradar e ajudar seus colegas. Talvez fosse um carma, nunca teve o reconhecimento que necessitava e ainda ocorreram muitos conflitos de idéias entre os representantes. Isso a fez desistir de todas suas metas da gestão e afastá-la deles. Kat pôde conhecer boas pessoas na faculdade depois que saiu da gestão. Decidiu empenhar-se ao máximo no semestre seguinte, obtendo notas muito boas. Entretanto, seu desentendimento com os colegas da representação acadêmica a deixava apreensiva e começou a desvirtuar-se e ter déficit de atenção nas aulas. Isso a consumiu tanto que seu cansaço e falta de energia foram maiores do que a força de vontade. No quarto semestre, Katherine entrou em colapso e afundou-se por completo. Suas notas caíram abruptamente, quase não estudava ou estava presente nas aulas. Sempre se encontrava distante e distraída. Além de ter que conviver com pessoas desagradáveis, estava frustrada com a técnica da Enfermagem, que não era uma boa reforçadora na sua vida. Trabalhar em plano secundário era constrangedor. Depois que terminou seu semestre com notas medianas, Katherine viajou e ficou com seu anjo. Recuperou muita energia, foi bastante incentivada e estava determinada a mudar seu futuro. Não queria ser uma profissional frustrada, fazendo algo que a deixava doente e não te dava prazer. Refletiu, refletiu e refletiu bem. Pensou novamente. E viu que seu sonho estava certo: queria Medicina. Não existe outra profissão melhor do que a de médico para Katherine. Kat, apesar de suas atitudes reservadas e tímidas, é muito dócil, altruísta e empática. Sua demonstração de afeto com os pacientes é única, escuta-os com muita atenção e carinho. Seu intuito é curá-los. Resta ainda alguma dúvida de que Katherine tem o dom para ser médica? Porém, nem tudo são flores. Será uma grande luta para conseguir entrar em Medicina.

O pai de Katherine é uma figura desagradável e avassaladora em sua vida. A mãe de Katherine também não é diferente, apesar de ter acreditado que sua filha seria capaz de ingressar em uma universidade pública. Katherine não precisa apenas de conhecimento e perseverança e sim de apoio, principalmente de pessoas que convivem o tempo inteiro com ela. Se Katherine estivesse morando com seu anjo, seria muito mais alegre e teria a força para vencer qualquer obstáculo, concretizaria seu sonho de ser médica.

Katherine sabe que se seguir seu sonho, será muito feliz no final. Mas se sente insegura e desmotivada, pois seu pai não acredita no seu potencial e determinação, fazendo-a derramar muitas lágrimas e ficar indisposta a realizar qualquer vontade ou desejo. 

Kat chegou até aonde suportou, mas não irá desistir, seu anjo e amigos continuarão a dar força e fazê-la alcançar seu sonho...

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