sábado, 4 de junho de 2011

Alligators zumbis - Beribéri

Sei que parece um título de filme e jogos, mas acabei de ver em um documentário da National Geographic Channel sobre Aliggators zumbis em um lago. O termo zumbi era dado para designar alligators que perdiam o senso de equilíbrio, movimentação de membros, que estavam vivos, mas logo morriam. Fizeram diversas necrópsias e biópsias nos órgãos, além de análise microbiológica sanguínea, mas não acharam nenhuma causa aparente. Ao realizar testes com eletrodos nos membros, descobriram que os alligators zumbis demoravam a responder ao estímulo elétrico. Sugeriram que poderia ser um distúrbio neurológico e dissecaram o cérebro de alligators cadáveres para investigar o provável motivo que causou morte deles. Observaram nódoas, regiões mais esbranquiçadas no cérebro, e pontos escuros, os quais demonstravam neurônios mortos. (A provável causa poderia estar relacionada à água, talvez?) Pesquisaram a água e notaram a presença de toxinas de algas. Logo a mídia divulgou que a morte seria por causa das algas, que se encontravam em grande número, pela poluição do lago feita por habitantes das redondezas, principalmente proveniente da agricultura, no momento em que havia chuvas, levando os agrotóxicos ao lago. 

Em um encontro científico, os pesquisadores conseguiram entrar em contato com outro pesquisador que estava verificando a morte de salmões. Apresentavam a mesma sintomatologia e características que os alligators zumbis. Continuaram a investigar órgãos e um possível agente patogênico, porém não encontraram nada. Algum deles, sugeriu que poderia haver a falta de determinados nutrientes, o que seria uma hipótese no mínimo absurda, pelo fato dos alligators residirem em seu hábitat natural. Como não havia outra alternativa, iniciaram os testes com os nutrientes. Descobriram que assim que os salmões ingeriam tiamina (vitamina B1), retornavam à normalidade e os problemas neurológicos desapareciam. Testaram os alligators e viram que aqueles que possuíam distúrbios neuronais, tinham menor concentração de tiamina no organismo. Logo, estava comprovada que a escassez de tiamina nos alligators era a culpada pelos maus funcionamentos neurológicos deles.

A vitamina B1 é responsável por modular a atividade neuronal, muscular e nervosa e sua deficiência causa degeneração de neurônios, manifestada por debilidade muscular, perda de reflexos, insuficiência cardíaca, edemas, falta de apetite (o chamado Beribéri).

Vocês se perguntam, como haveria deficiência em vitamina B1 se os alligators se encontravam em ambiente natural? Com a mesma indagação, os pesquisadores avaliaram o conteúdo estomacal de alligators sadios vivos. Após meses de pesquisa, descobriram que o alligator estava ingerindo apenas uma espécie de peixe. Este peixe produz a enzima tiaminase, que catalisa (quebra) a vitamina B1, impedindo que haja absorção desta pelo alligator. Fizeram testes com alligators sadios e a alimentação desta espécie de peixe e descobriram que ela realmente afetava os níveis de tiamina no organismo do alligator.

A causa da falta de tiamina nos alligators foi descoberta, mas por que só estavam predando uma espécie de peixe?

Vários estudos foram realizados e obteve-se a seguinte conclusão: Todas as hipóteses sugeridas estavam corretas. A agricultura ribeirinha continha agrotóxicos que eram conduzidos por águas pluviais até o lago dos Alligators. Isso proporcionou a proliferação massiva de algas, que matavam outras plantas e espécies de peixes. A única espécie de peixe que se adaptou ao convívio das algas foi aquela em que os peixes produziam a tiaminase. Por se tratar de um hábitat natural dos alligators, a predação dava-se exclusivamente nessa região e apenas essa espécie era utilizada como fonte de alimentação. Então, os alligators se alimentavam dessa espécie de peixe, perdiam suas vitaminas B1 e apresentavam distúrbios neurológicos.

Acho fantástico como se faz tantas descobertas com as pesquisas. Por que acham que quero ser pesquisadora? (^  ^)

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